O corpo como eixo político na performance feminista

O traballo de María Roja no artigo de Helena Salgueiro para Galiza Livre

A arte de acçom sempre tivo um importante componhente político. O feminismo valeu-se da performance como forma artística bem acaida para umha desestruturaçom da identidade e resignificaçom do corpo. O estar, o atuar, o mover-se, o amosar-se, o situar-se como um enunciado performativo. O corpo como meio que habitar politicamente.
Desde o feminismo da segunda onda, as mulheres começamos a redescubrir e reapropiar-nos do nosso corpo. A revoluçom sexual, os dereitos reprodutivos ou a subversom do género instalarom-no no ponto de mira. Muita arte de acçom feminista tem que ver co sexo ou o espido. Também com os fluídos: o belo e o terrível do que falava Rilke, ou o grotesco de Bajtín. Apontar o socialmente desagradável e resignificá-lo, amosar a sua beleça.
A desatomizaçom e a autoconfiguraçom consciente do corpo, um corpo que se desprende da norma, que decide existir a travês da experiência e nom como umha estrutura, como um organismo, ou parte dum sistema, ou oprimido por um Estado. O corpo da performer feminista bem poderia ser o corpo sem órganos do que falava Deleuze, o qual se basseiou no pensamento do teórico teatral Antonin Artaud. Aliviar-se dos pontos que nos fixam e ancoram numha realidade. O género, a beleça, os afetos.
Ao figurarmo-nos a imagem deste corpo sem órganos pensamos instantaneamente na performatividade do género de Judith Butler, que trata o corpo e o género desde um ponto de vista fenomenológico. Plural, subversivo. A percepçom do suxeito no mundo meiante o palpável fronte umha res extensa.
O corporal sempre foi ligado ao demoníaco em contraposiçom com a esência. A experiência fronte à esência, a bruxa fronte ao párroco.
Umha erótica da arte e nom umha hermenéutica da arte, como avogaba Susan Sontag.
Enarborar a beleça do caos, rejeitar a autoridade das etiquetas ou os sistemas. Reposuir a carne como um escenário do caos.
Podemos identificar distintos conceitos, trabalhar distintas images na performance feminista: o estudo do exceso e asfíxia representando estruturas sociais no corpo (como trata a académica Alessandra Montagner), a ironia do corpo como objeto ou títere, a orgulhosa exaltaçom dos fluídos como o sangue menstrual ou o mexo (veja-se Cuerpos y fluídos de Emilio Tarazona), a veneraçom versus banalizaçom dos genitais, a conceptualizaçom do corpo a travês da paisagem, a simbolizaçom com o corpo dumha violência ativa (a arma) ou passiva (a violaçom), o empoderamento do corpo a travês da dor auto-infringida, a expresom liberadora do coito ritualizado, etc.

Umha periferia fora da periferia

Nom entraremos no ermo debate sobre se a arte que trata o feito mulher desde umha perspetiva auto-consciente, de nom explicitar-se, é arte feminista ou nom. Ainda assi, todas as que conheçamos a obra de Marina Abramovic admitiremos que é um importante referente na performance feminista. E porém, ela afirma em várias ocasons nom ser feminista. Pode a obra desvencelhar-se da artista?
Secasí, Abramovic fixo do seu corpo um campo de batalha, dun jeito quase literal. Em Belgrado, a performer deixou 72 objetos numha mesa (desde umha rosa até umha pistola carregada) para que a audiência lhe figera o que quigesse com eles. Depois de horas, ela rematou espida, vexada, ensanguentada e cheia de bágoas. Era 1974. Noutras performance, tumba-se espida num bloco de gelo (nesta linha, a performer chinesa Xiaou Lu, tentando libertar-se dumha cela de gelo cum coitelo, cortou-se as mans), estampa-se contra umha parede (parodiada no filme La grande belezza) ou auto-infringe-se feridas (a presença da performatividade na dramatúrgia de Angélica Lidell também bebe disso).O sufrimento catártico, abranger os límites do corpo, experimentar com o sufrimento, com a potência, com o poder, com o empoderamento.
Ela é o exemplo por antonomasia da arte de acçom Occidental. Agora pregunto: que performer se nos vem à cabeça se desbotamos Europa ou Estados Unidos? Desde o meu curto entendemento, e com muito pessar, reconheço que se contavam até bem pouco com os dedos dumha mam.
Junto com Abramovic, atopa-se Carolee Scheeman, precursora do Body Art, que por exemplo saca um rolo de papel da vulva e lê um texto na performance Interior Scroll. Ela localiza o pensamento dentro do corpo, nom da mente. Em Eye Scroll, fílma-se as transformaçons do seu corpo espido em estado de trance.
Como elas, muitas pioneiras da performance feminista e avant-garde entre os 60-80 eram mulheres brancas, ocidentais, de clase meia, cis, heterosexuais. O seu trabalho era radical e necessário, mas habia um suco que atravessava a arte de acçom feminista. Onde estavam o resto?
Hogano a performance feminista abrange um espectro geo-político mais amplo, aliás de se colectivizar e nom só formar parte dumha elite intelectual. Performance feminista pode ser umha guerrilla performance (como a denominam as Pussy Riot) até o Um violador no teu caminho, passando por drag queens, por umha Govend bailada por guerrilheiras do Kurdistan, por Isto nom é umha performance feminista de Shannon Williams, polo baile umha a umha de Zinzi Minott com membros da audiência exclusivamente trans negras, por Rummana Hussain exibindo a roupa que vestiam as vítimas dumha violaçom no momento de serem asaltadas na India, pola reflexom da identidade africana a travês da representaçom da deusa Mami Wata no corpo de Ato Malinda, por okupar umha casa e fazer assembleia, polos autocoidados, pola vagina de Deborah de Robertis amosada no Museo de Orsay frente de A origem do mundo, até pintar quadros com sangue menstrual, sacar ovos da vagina, ou arrastrar vísceras e botar mexos no Auditório de Galiza. *

Os corpos descolonizando-se

As narrativas das naçons que compartem umha memória de colonizaçom afincada nas identidades e nos corpos (sem cometer o erro de encarnar o conceito de naçom na mulher, como Helena Carballeira estuda em Galiza, um povo sentimental?) tenhem umha dobre vertente política e emborcam plenamente essa dialéctica de opresom e libertaçom física na performance feminista. A artista Marina Barsy Janer (Puerto Rico) trata isto en DERMIS COMUNAL: Transmutación de una epistemología colonial, onde o seu corpo está cravado, a jeito de acupuntura, com alfinetes em forma de abelha, com a palavra colonia pintada nas costas.
Às vezes vê-se um claro vínculo com a natureça que nos remite ao ecofeminismo. A artista cubana Ana Mendieta estabelecia um diálogo entre si e os elementos da natureça na sua série Siluetas com lama, areia, erva e mesmo lume.
Maria Evelia Marmolejo envolveu-se em gasa e fijo um lavado vaginal no rio Cuca, em Colombia, contra o cambio climático. Também, no 1981, cortou os seus pés e caminhou ensanguentada sobre papel branco na Plazoleta del Centro Administrativo Municipal, em Cali, em protesto contra do regime de Ayala.
Na performance Presencia Regina José Galindo fala sobre o feminicídio, coberta de bolsas de plástico ou terra.
Na performance Women of the hill de Hanna-tuulikki, na ilha escocesa de Skye, explora-se a natureça, o folklore e a arqueología escocesa meiante o corpo e a voz da muller. Também Into the Mountain –nas Terras Altas- un trabalho de movimento gravado enm 88 mm com textos da escritora Nan Shepherd, vincula o corpo feminino com a paisagem. A artista escocesa Rhiannon Armstrong trabalha com elementos naturais para fazer performance íntimas (só cumha persoa de audiência). Entre outros espaços, realizou performances en prisons.
Na Galiza, mencionamos especialmente o trabalho de 3 performers cumha trajetória notória no ámbito da arte de acçom, como som Ana Gesto, María Roja e María Marticorena.
Compre salientar também o ciclo Mulleres en Acción que se leva realizando na cidade de Pontevedra desde o 2015, na que muitas criadoras galegas colaborárom con acçons e na que se desenvolveu a performance Nin unha menos da artista Ana Gesto. Nesta acçom, Gesto representa de jeito literal a carrega que o heteropatriarcado exerce sobre o corpo, atando diversas potas de barro à cintura e arrastrando-as pola rua. O seu corpo também se cobre em terra ou deixa um rasto de cinça (cousa que nos leva de volta aos elementos naturais de Ana Mendieta).
María Roja, em solitário ou junto com outras artistas como Alba Blanco ou Begonha Cuquejo, também emprega o corpo como elemento central do seu discurso. Em PASAESCALABRA, o coletivo Blanco+Roja reflexiona sobre a violência linguística e institucional que bate nos corpos, imitando um programa de televisom, coa colaboraçom de diversas actrizes galegas feministas, como Marta Pérez.
Pola sua banda, María Marticorena emprega objetos como cordas que ou bem a aprisionam (Non) ou a deformam e ferem (Deixarme as unllas). O corpo serve também como espaço para a retranca e os estereotipos nacionais, ponhendo cunchas de peregrino nos peitos (Heiche de tocar as cunchas).

* (Performance do colectivo Vúlvaras no 2016, formado pola autora e Laura Gil)

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https://www.galizalivre.com/2020/05/17/o-corpo-como-eixo-politico-na-performance-feminista/